Especialistas criticaram sistema “ineficaz” de prevenção ao suicídio entre crianças e adolescentes
Crédito: Ana Laura Kawabe/Alternativa – 21/04/2017 – Sexta, 14:49h
Tóquio – Enquanto o índice geral de suicídios no Japão apresenta queda, os dados que mostram os casos apenas entre crianças e adolescentes parecem seguir na direção contrária.
Nesta sexta-feira (21), o jornal Asahi divulgou em uma reportagem os dados publicados pela Agência Nacional de Polícia. Durante o ano de 2016, 320 crianças e adolescentes tiraram a própria vida em todo o país.
Dados mais detalhados mostram que, deste número, 12 eram alunos do primário (shougakkou); 93 estavam matriculados no ensino ginasial (chuugakkou) e 215 eram estudantes de ensino médio (koukou).
Aproximadamente dois terços do total de mortes eram de meninos, outro dado que chamou a atenção das autoridades.
O índice geral de suicídios no Japão atingiu o pico em 2003, ano em que 34.427 pessoas tiraram a própria vida. Desde então, os registros baixaram e, em 2016, o dado ficou em 21.897 vítimas.
A queda no registro mostra um bom resultado relacionado à Lei Básica de Prevenção ao Suicídio, que passou a valer em 2006. Medidas como a possibilidade de consultas para quem pensa em tirar a própria vida foram adotadas.
Entre os estudantes, o índice ficou próximo da casa dos 300 em 2010 e, desde então, tem apresentados registros parecidos todos os anos. Houve inclusive o pico de 350 mortes em um ano.
De acordo com os dados do Ministério da Saúde, a idade que mais acontecem casos é de 15 a 19 anos. Em segundo lugar, as mortes de jovens entre 10 e 14 anos se destacam.
O “ijime” (bullying) de fato é uma das causas, mas não é o único motivo que leva pessoas tão jovens a tirar a própria vida. Os dados da polícia mostram que 36,3% dos casos são relacionados a problemas escolares.
Em 23,4% dos suicídios de jovens, o problema teria sido provocado por questões familiares. Problemas de saúde, como a depressão, é a causa de 19,7%.
Entre os “problemas escolares”, seis casos foram comprovados como mortes provocadas por atos de bullying.
O professor da Universidade de Tsukuba e especialista em prevenção ao suicídio, Yoshimoto Takahashi, alertou para os variados motivos que levam ao ato extremo.
“Os suicídios de crianças podem ocorrer por bullying, mas também por problemas na família e psicológicos. São várias causas que aumentam as chances e algo ocorre e se torna a gota d’água. O bullying é um problema sério, mas apenas prevenir o ‘ijime’ não é suficiente para acabar com o suicídio”, analisou.
Neste sentido, a crítica vai para o atual sistema japonês que, segundo a reportagem, não consegue identificar com clareza as razões e não é possível adquirir estas informações apenas com as estatísticas.
Nos casos em que há suspeitas de ijime, as ações ocorrem através da Lei de Promoção de Prevenção ao Bullying. A escola e o Comitê de Educação Infantil do município são obrigados a identificar a causa e a trabalhar na prevenção.
Nos casos que não possuem relação com o ijime, há um interesse em que o Ministério da Educação, bem como a escola e o Comitê responsável investiguem. Porém, se a morte não ocorrer por motivações relacionadas ao ambiente escolar, nenhum desses órgãos é obrigado a se envolver.
De acordo com um professor de 60 anos, que trabalhava em uma escola ginasial no norte do Japão, um caso que ocorreu há alguns anos mostrou bem o quanto os órgãos públicos ignoram o suicídio provocado por motivações não relacionadas ao ambiente escolar.
“Lembro que uma aluna tentou cometer suicídio e o problema passou a ser investigado. Porém, quando o Comitê de Educação percebeu que a causa não tinha a ver com a escola, disse que o assunto não era com eles. A vida das crianças é muito importante, tem que prevenir todas as causas”, disse.
Este conteúdo – assim como as respectivas imagens, vídeos e áudios – é de autoria e responsabilidade do Alternativa Online.
Foto: iStockphoto